terça-feira, 12 de julho de 2011

Pesquisa do Cena estuda a origem do hambúrguer do Big Mac

Lanche funciona como um traçador do sistema de produção de carne nos países

O laboratório de Ecologia Isotópica do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da USP, em Piracicaba, viajou o mundo para descobrir o segredo do Big Mac, principal e mais conhecido produto da rede de fast-food Mc Donald’s, presente em mais de 100 países.
Com o objetivo de apresentar as características culturais da alimentação mundial, o estudo pesquisou Big Macs provenientes de 26 nações. “O lanche, considerado o carro-chefe do Mc Donald’s, funciona como um poderoso traçador do sistema de produção de carne dos países. O hambúrguer fornece diversas e variadas informações”, conta o pesquisador Luiz Antonio Martinelli, responsável pela pesquisa. “Por ser servido em quase todo o mundo, o sanduíche tornou-se um útil objeto de estudo. Inclusive já existe o Big Mac Index, índice econômico que calcula o preço do Big Mac em todos os países em que é consumido, com o intuito de medir o valor de uma moeda em relação ao dólar”, completa.
Para esse estudo, o pesquisador rastreou a cadeia alimentar do gado a fim de descobrir onde e como é produzido o principal ingrediente do Big Mac. “A carne moída para a produção de hambúrgueres é preparada em lotes, abrangendo uma multiplicidade de animais comprada de vários fornecedores. Portanto, os hambúrgueres se mostraram úteis integradores das características da carne disponível em uma área geográfica”, justifica.
Assim, Martinelli comprovou que, apesar de o Big Mac ser uma comida global, seu sabor é local, pois o hambúrguer é originário do rebanho de cada país. “Mas isso não ocorre no mundo todo. Os isótopos estáveis do carbono e do nitrogênio da carne contida em cada um dos Big Macs estudados mostraram, por exemplo, que o lanche consumido no Japão é proveniente da Austrália, com gado alimentado com gramíneas do tipo fotossintético C4”.
Esta conclusão foi baseada no fato que as carnes dos lanches japoneses tinham uma razão isotópica do carbono-13/carbono-12 mais elevada do que os esperados num país baseado em uma agricultura de ciclo C3 (norma que caracteriza a forma como a planta faz sua fotossíntese), comprovando que o Japão importa carne da Austrália, onde prevalece o modo fotossintético C4 da lavoura, ou seja, das plantas que suportam altas luminosidades, fato que não ocorre no país nipônico.
“As análises dos isótopos estáveis dos elementos carbono e nitrogênio, contidos nos objetos de estudo, no caso a carne do lanche do Mc Donald’s, forneceram três importantes conclusões. A primeira é que com um simples hambúrguer é possível rastrear o que o gado come pelo mundo todo. A segunda nos confere à possibilidade de estabelecer como carnes produzidas em diferentes países viajam pelo mundo. E a terceira é que, por uma questão de mercado, o igual não é tão semelhante assim”, relata.
Essas conclusões levaram Martinelli a empregar o conceito “glocal”, fusão das palavras global e local, no Big Mac. “O famoso lanche do Mc Donald’s tem a capacidade de estar, ao mesmo tempo, atualizado ao sistema mercadológico das empresas globais sem perder a influência cultural imposta pelo mercado local”, finaliza.




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