terça-feira, 18 de outubro de 2011

Exposição sobre Marie Curie é destaque na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia

Marie (sentada) com sua filha, Irene Curie, no laboratório




RIO - Primeira mulher a ganhar o Nobel - em 1911, há exatos cem anos - e a única pessoa a recebê-lo duas vezes em áreas científicas, em física e química, Marie Curie é tema de exposição que, com o apoio do Consulado-Geral da França, ocupa desde segunda-feira o Centro Cultural Light (Avenida Marechal Floriano, 168, no Centro). O diretor do Museu Marie Curie, em Paris, Renaud Huynh, que está no Rio para a abertura da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia e também para as comemorações do Ano Internacional da Química, conversou com O GLOBO sobre a pesquisadora. Marie Curie foi a responsável pela descoberta da radioatividade, o que levou ao desenvolvimento de exames de ultrassonografia a terapias para o tratamento do câncer. Na mostra, fotos da época, um documentário sobre a cientista e alguns vídeos.
O que a exposição e Marie Curie, uma cientista do início do século, têm a dizer para o Brasil atual?
RENAUD HUYNH: A exposição permite uma visão sobre a vida de Marie como pesquisadora e como mulher - uma questão que está sempre no centro dos debates. A mensagem importante é que é preciso ter prazer no ato de fazer ciência, apesar dos obstáculos.
Marie Curie é conhecida pelo grande público?
HUYNH: Ela é mais conhecida aqui do que na França. Talvez essa notoriedade se deva ao fato de ter visitado o Brasil pelo menos duas vezes: em 1911 e 1926. Não sei dizer a imagem que ela tem aqui, mas creio que seja a de alguém que buscou a ciência pura e desinteressada de ganho material. Ela foi integrante da Academia Brasileira de Ciências, mas não conseguiu ser eleita para o órgão semelhante da França. Perdeu por um voto, e não porque seu trabalho não era reconhecido, mas simplesmente por ser mulher.
Ela foi a primeira mulher a ganhar sozinha o Prêmio Nobel. Cem anos depois desse feito, a competição entre sexos na ciência ainda lhe parece desigual?
HUYNH: A posição delas melhorou bastante, mas ainda não é a ideal. Muitas, como no início do século, têm dificuldade de ver o trabalho reconhecido. Em 1903, a ideia era dar o Nobel apenas para o seu marido, Pierre Curie. A família teve que lutar para vê-la também laureada. Em 1995, o governo francês quis homenageá-la e transferiu seu corpo para o Panteão, onde são sepultadas as grandes personalidades de nosso país. Dessa vez, foi o Pierre que quase ficou de fora. Esse episódio mostra como nossa mentalidade está mudando.
Mesmo com o Nobel, a condição de estrangeira (Marie nasceu na Polônia) a fez ser vítima de preconceito?
HUYNH: Por volta de 1910, ela passou a ser perseguida pela imprensa nacionalista. Mas, com o início da 1ª Guerra Mundial, ela desenvolveu aparelhos portáteis de raio-X para os militares, o que a fez ganhar muita simpatia. Recentemente ela foi reconhecida, em uma votação popular na Polônia, como a mulher mais importante de todos os tempos daquele país. Acho que Marie não é polonesa nem francesa; é internacional.
O Instituto Curie, em Paris, tem como prioridade pesquisas relacionadas ao câncer?
HUYNH: Sim, especialmente os femininos: o câncer de útero e de mama. Mas diversificamos nossas atividades. Temos 3 mil pesquisadores de 70 nacionalidades. Somos o único centro de pesquisas europeu a usar um acelerador de partículas para radioterapia de tumores que não podem ser operados. Normalmente os centros de pesquisa não interagem com a ala hospitalar. Lá ambos estão juntos, o que permite um tratamento mais rápido.
O que Marie teria a dizer sobre acidentes nucleares como o de Fukushima?
HUYNH: Acho que ela diria que deve-se reforçar sempre a segurança. Pierre Curie, quando venceu o Nobel, disse que a radioatividade é como dinamite: pode ser muito útil ou destruidora. A Marie era muito cuidadosa com isso. Mas também tinha consciência dos benefícios que aquilo traria para a saúde - coisas bem mais importante do que uma queimadura na mão, por exemplo.

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