domingo, 27 de novembro de 2011

A ignorância é uma benção

Quanto menos sabemos, menos procuramos saber

É o que diz pesquisa americana, feita com base em entrevistas sobre assuntos sociais

Pesquisador quis saber se, como diz o dito popular, a ignorância é uma benção Foto: Divulgação
Pesquisador quis saber se, como diz o dito popular, a ignorância é uma benção Divulgação
RIO - Um dito popular mundialmente famoso - "a ignorância é uma benção" - sempre intrigou Steven Shepherd, pesquisador da Universidade de Waterloo, nos Estados Unidos. Para conferir se havia alguma verdade nessa máxima, ele aplicou testes, nos últimos dois anos, em 511 americanos e canadenses. E descobriu que, quanto menos seus voluntários sabiam sobre temas complexos, como economia, consumo de energia e meio ambiente, menos eles procuravam aprender.
Há um beneficiado por esta equação: o governo (seja ele qual for). Como se tratam de polêmicas ligadas à sociedade, os entrevistados depositavam toda a confiança no Estado. As autoridades teriam carta branca para fazer o que fosse melhor para todos. Afinal, ao menos teoricamente, são elas que dominam aqueles assuntos.
- Quando um tema é muito complexo, nós terceirizamos a responsabilidade pelo seu entendimento - explica Shepherd ao GLOBO. - A falta de compreensão transforma-se em uma confiança crescente nessas autoridades. É uma opção confortável para as pessoas.
Para Shepherd, o estudo teria resultados semelhantes se fosse aplicado em outros países - inclusive no Brasil.
- Recrutamos uma ampla gama de pessoas, de diferentes idades e origens. Por isso, creio que este fenômeno não é específico a uma cultura ou a um local - conclui - Em outros países, haveria resultados análogos. Os problemas a serem pesquisados, obviamente, poderiam mudar. No Japão, por exemplo, as pessoas são realmente motivadas a pensar que seu governo pode lidar com os desastres pós-tsunami. Seria difícil que acreditassem em algo contrário a isso.
O pesquisador ressalta que seu trabalho pode ser usado para que educadores procurem formas mais atraentes de fazer com que os estudantes se envolvam em temas importantes à sociedade. Uma alienação como a vista atualmente, segundo Shepherd, permite que a classe política apresente os problemas de forma superficial e explore mais as emoções do que o conteúdo de um debate.
- Muitas pessoas mudam a canal quando veem um comercial de TV pedindo-os para doar dinheiro para crianças doentes. Mas não o fazem por não ligar para o problema. É porque elas ligam o suficiente para achar aquelas imagens perturbadoras demais - acredita. - Olhar para outro lugar, então, torna-se uma forma conveniente de lidar com aquilo. Lembrar as pessoas que elas têm poder para ajudar é uma parte desse quebra-cabeça.
Shepherd publicou um artigo sobre a pesquisa na última edição do "Journal of Personality and Social Psychology", da Associação Americana de Psicologia.

2 comentários:

  1. Excelente artigo!! Todos sabemos disso, mas eu nunca tinha escutado falar de um estudo sério sobre o assunto !! e agora estamos respaldados para lhe dar com os que preferem ser alienados perante o sistema.

    E Anderson, conforme nós conversamos, eu fiquei de te avisar se eu fosse aprovado no vest de física!! Fui Aprovado!! ano que vem eu irei iniciar o curso... Vlw.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado pelo comentário e parabéns pela aprovação no vestibular, Tadeu.

    Um forte abraço.

    ResponderExcluir