Um detalhe do quadro do Van GoghDR
Havia um mistério de teor biológico nos girassóis envasados que Vincent van Gogh pintou. Parte das plantas desenhadas em 1888 pelo artista holandês eram mutantes, e uma equipa conseguiu agora deslindar o funcionamento desta mutação que dava um aspecto diferente à planta. O artigo que explica este fenómeno foi publicado nesta quinta-feira na revista PLoS Genetics.
O girassol parece uma flor, mas na verdade são
muitas flores agregadas, por isso chama-se inflorescência. Cada
estrutura que se assemelha a uma pétala grande e amarela não é mais do
que uma flor modificada, incapaz de produzir sementes. Por dentro também
existem inúmeras pequenas flores em forma de tubo, que estão arrumadas
em círculos concêntricos. Podem ser polinizadas e dar sementes.
A
estrutura é muito eficiente na polinização e várias espécies diferentes
de plantas da família dos girassóis evoluíram neste sentido.
A
disposição natural do girassol é de uma circunferência externa de
grandes “pétalas” e várias circunferências até ao centro de pequeninas
flores. Mas existem indivíduos mutantes que apresentam um gradiente de
grandes “pétalas” desde a parte mais externa até ao centro da
inflorescência.
Estas duplas flores, como lhes chamaram os
cientistas, estão representadas numa série de quadros de Van Gogh. Uma
equipa da Universidade da Georgia, nos Estados Unidos, fez vários
cruzamentos destas variedades de girassol para compreender o
funcionamento dos genes por trás do fenómeno.
A equipa, liderada
por John Burke, já sabia que estas modificações tinham de estar
associadas a um gene que controla a forma das flores. Através de uma
análise genética, os investigadores perceberam que, na planta mutada,
parte deste gene não funcionava bem.
O mecanismo que
naturalmente restringia as flores que se parecem com grandes “pétalas” à
parte exterior da inflorescência ficava desligado nas plantas com a
mutação e todas as estruturas que deveriam tornar-se pequenas flores
acabavam por se diferenciar em “pétalas”. O resultado era um indivíduo
infértil.
Mas os cruzamentos desvendaram ainda uma segunda
mutação, que provocava no girassol o efeito inverso das duplas flores.
Neste caso, na inflorescência só se desenvolviam pequenas flores
tubulares. As grandes “pétalas” que normalmente estavam na parte
exterior foram substituídas por flores tubulares amarelas um pouco
maiores. A equipa descobriu que a causa desta mudança era uma alteração
do gene que controla a forma das flores e inutilizava completamente o
seu funcionamento.
“Além de ter interesse do ponto de vista
histórico, esta descoberta permite-nos compreender a base molecular de
uma característica que é importante a nível económico”, sublinhou Burke.
E assim ficámos a perceber como é que parte dos girassóis de Van Gogh
era, afinal, infértil.
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