Por Giovanni Santa Rosa - giovanni.rosa@usp.brPublicado em 13/setembro/2012
Um fragmento de proteína pode ser uma importante arma contra o
câncer. É o que foi descoberto numa pesquisa da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto (FMRP) da USP. O trabalho do biomédico Antônio Carlos
Borges demonstra que um pedaço da miosina Va — proteína motora
responsável pelo transporte de algumas organelas —, quando expresso
individualmente, inibe o crescimento de tumores.
A tese de doutorado Expressão de um fragmento da Miosina Va inibe o crescimento de tumores de melanoma induzidos em modelo animal,
orientada pela professora Enilza Maria Espreafico, buscou testar o
efeito antitumoral de uma sequência da proteína estudada. Para isso,
foram produzidas células tumorais capazes de expressar o fragmento e, em
seguida, utilizadas para induzir tumores em camundongos.
“Tentando fazer uma analogia, a miosina seria como um trem de carga
com seus vagões, deslocando-se sobre trilhos. Nestes vagões poderiam ser
transportadas diversas cargas, como moléculas, vesículas e organelas,
inclusive “cargas perigosas”, como os fatores pró-apoptóticos. Se esses
fatores pró-apoptóticos ‘caíssem dos vagões’, seriam capazes de induzir a
morte da própria célula”, explica.
“O que fizemos em nosso trabalho foi forçar a célula tumoral a
fabricar ‘um vagão de cargas perigosas’, isto é, um fragmento da miosina
Va, desengatado do trem. Assim, as ‘cargas perigosas’ ficam livres
dentro da célula para provocar a morte da mesma.”
O resultado do estudo em animais foi satisfatório. Depois de 28 dias,
enquanto quase 90% dos camundongos do grupo cujos tumores possuiam o
fragmento de miosina continuavam vivos, pouco mais de 60% dos
camundongos do grupo que tinha tumores normais haviam sobrevivido.
A medição do volume dos tumores também aponta resultados mais
animadores. “Verificamos que os tumores expressando nosso peptídeo
cresceram significativamente menos que tumores que não expressam”, diz o
biomédico.
Borges ressalta que o resultado é, de certa forma, surpreendente, já que os resultados in vivo com os animais superaram os efeitos observados in vitro, feitos em tubos de ensaio, apenas com as células, o que nem sempre acontece.
A aplicação prática do princípio, avaliado pelo pesquisador como uma
“ferramenta promissora”, no entanto, ainda está longe de ser alcançada.
Ele afirma que outros pesquisadores do Laboratório de Biologia Celular e
Molecular do Câncer da FMRP continuam trabalhando nesse sentido, mas o
uso do fragmento no tratamento do câncer só deve ser obtido a longo
prazo.
Imagem: Wikimedia
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