sexta-feira, 3 de junho de 2011

Universo pode não estar em ritmo acelerado de expansão

Análise descreve de modo matemático tamanho do Universo conforme o tempo

 O Universo pode não estar em expansão acelerada. Na verdade, a observação das estrelas supernovas indica várias possibilidades para a aceleração cósmica, e não se pode prever de forma precisa o ritmo ou a continuidade do avanço. Essa interpretação foi obtida em pesquisa realizada no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP pelo pós-doutorando Antonio Guimarães e o pelo professor José Ademir Sales de Lima. A partir da análise dos dados das supernovas, os pesquisadores demonstraram que o estado atual do Universo abre um grande número de possíveis variáveis sobre sua expansão ou retração.
 De acordo com o pós-doutorando, há cerca de dez anos a observação das supernovas fez com que surgisse um consenso na comunidade científica de que o Universo está em expansão acelerada. “No entanto, essa hipótese é muito influenciada pelos modelos usados para analisar os dados, diminuindo a importância da observação direta”, ressalta. O modelo mais utilizado é o Lambda-CDM (Cold Dark Matter). “Ele é baseado na chamada ‘energia escura’, de constituição desconhecida que corresponderia a cerca de 70% de toda a energia do Universo, e seria responsável pela aceleração”.
 A pesquisa se baseou apenas nos dados das supernovas, numa abordagem cosmográfica, sem considerar qualquer modelo de energia escura. “Por meio das medidas de brilho e redshift, é possível estimar a distância e velocidade de afastamento das explosões supernovas”, , conta Guimarães. “A análise descreve de modo matemático o fator de escala do Universo, isto é, seu tamanho conforme o tempo”.
 As análises mostraram que houve um período de aceleração recente (acontecido há alguns bilhões de anos), porém o estado atual de aceleração é mais incerto do que indicado pelos modelos de energia escura. A situação seria indeterminada, a expansão pode ser acelerada, mas estar em diminuição, já que o estado atual do Universo é melhor representado por uma distribuição de probabilidades.
 Desaceleração
 Durante a análise, as supernovas foram divididas em conjuntos diferentes, separadas entre antigas, recentes e muito recentes. “Conforme se adicionava supernovas mais recentes, a curva de probabilidades tendia para valores mais negativos de aceleração, o que pode indicar que o Universo esteja se expandindo de forma menos acelerada”, diz Guimarães.
 Com a utilização de dados cosmográficos mais recentes, baseados na observação de 557 eventos de supernovas, verificou-se que quando se excluem as mais antigas, a curva de probabilidades da aceleração apresenta valores menores. “Ou seja, quanto mais recente e próxima, mais ela parece indicar que a expansão seria menos acelerada”, acrescenta o pesquisador.
 No modelo Lambda-CDM, o Universo se expandiria indefinidamente e a tendência seria a galáxia onde se encontra a Terra ficar cada vez mais distanciada das demais. “Outros modelos baseados na energia escura falam por exemplo em desaceleração e colapso, o chamado ‘Big Crunch’, mas como a natureza desse tipo de constituinte é pouco conhecida, há muitas possibilidades em aberto”, aponta Guimarães. “No caso da análise das supernovas, é possível formular hipóteses sobre o estado atual do Universo, onde as curvas de valor de aceleração podem abarcar tanto valores positivos quanto negativos, o que multiplica as possibilidades sobre a expansão futura”.
 Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista científica “Classical and Quantum Gravity” (Estados Unidos). O estudo teve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O trabalho deverá ser apresentado no encontro anual da Sociedade Brasileira de Física, em Foz do Iguaçu (Paraná), que acontece entre os dias 5 e 10 de junho.

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