Cúpula do CTIO 4 m - foto do Roger Smith/NOAO/AURA/NSF
A Via Láctea possui um sistema de galáxias satélites que a acompanham na sua jornada pelo universo. Desse séquito, duas galáxias se destacam: a Grande e Pequena Nuvens de Magalhães. Elas são muito difíceis de serem observadas do hemisfério norte, pois estão muito ao sul, tanto que os primeiros registros por observadores europeus são do final do século 15.
Astrônomos persas, em posição mais favorável, já relatavam as duas nuvens por volta do ano 960. A Grande Nuvem de Magalhães está a 160 mil anos-luz de distância, enquanto a Pequena Nuvem está a uns 200 mil.
Mesmo a essas distâncias, as nuvens sofrem com a força gravitacional da Via Láctea e são fortemente deformadas, tanto que ambas são classificadas como irregulares, apesar de terem evidências de uma barra – estrutura central que mudaria essa classificação.
Mas a recíproca é verdadeira e alguns estudos tentam mostrar que a interação das nuvens com o gás da Via Láctea produz surtos violentos de formação de estrelas. Além disso, há uns 2,5 bilhões de anos as duas nuvens devem ter se chocado, como indica uma “ponte” de gás entre elas.
Recentemente, um grupo de pesquisadores dos EUA, incluindo um grande amigo meu, publicou um trabalho no Astrophysical Journal mostrando que as duas nuvens têm mais em comum do que a ponte de gás descoberta nos anos 1960.
Analisando dados do telescópio espacial Spitzer, o grupo de pesquisadores liderados por Robert Blum e Knut Olsen selecionou por volta de 6 mil estrelas gigantes e supergigantes na Grande Nuvem. Usando o telescópio de 4 metros do Observatório Inter-americano de Cerro Tololo, no Chile, eles obtiveram o espectro de 4,6 mil dessas estrelas e chegaram à conclusão de que 5% das estrelas da Grande Nuvem não devem ter nascido nela. Como eles chegaram a essa conclusão?
As estrelas observadas parecem ter rotação em direção diferente da grande maioria das estrelas da região. Isso sugere que elas não se formaram do mesmo material. Além disso, a composição química das estrelas também é diferente. Elas têm menos elementos pesados como o ferro e o cálcio. Mas, de onde então teriam saído essas estrelas? Da Pequena Nuvem! As estrelas dessa galáxia têm essa mesma deficiência em ferro e cálcio.
Ninguém nunca tinha percebido isso antes: a ponte que interliga as duas regiões é apenas de gás. Agora sabemos que. além de gás, a Grande Nuvem de Magalhães rouba também estrelas! Esse fato pode ajudar a entender como uma das regiões de formação de estrelas mais ativas já observadas nasceu, a chamada região de 30 Doradus.
O impacto dessas estrelas roubadas da Pequena Nuvem causa uma forte onda de choque no gás da Grande Nuvem. Essa onda de choque é forte o suficiente para comprimir o gás, estimulando a formação de estrelas de grande massa.
A imagem abaixo mostra a Grande Nuvem de Magalhães como vista no infravermelho pelo Spitzer. As bolinhas mostram a posição de algumas das estrelas roubadas e as suas cores indicam a direção das velocidades delas: em azul, as estrelas que estão se movendo na nossa direção; em vermelho, as que estão se movendo na direção oposta.
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