domingo, 18 de setembro de 2011

A farsa da “faxina” de Dilma


Escrito por Diego Cruz

Ministro da Agricultura é o quarto a cair em apenas oito meses de governo
 
No dia 17 de agosto o então ministro da Agricultura, Wagner Rossi, entregou sua carta de demissão à presidente Dilma. Foi o desfecho de duas semanas de revelações quase ininterruptas de irregularidades e corrupção no órgão, que tornaram a permanência do ministro insustentável. Em apenas oito meses de mandato, Rossi foi o quarto ministro a cair.
 
Mais uma ação da “faxina” de Dilma nos ministérios? Essa é a ideia que tanto a imprensa como setores do governo tentam vender. Ao melhor estilo da “vassourinha” eternizada na campanha de Jânio Quadros, Dilma estaria “varrendo” a corrupção ao expurgar quadros do governo envolvidos em escândalos.
 
Contra essa visão de que Dilma estaria empenhada em promover uma limpeza ética nos ministérios está o fato de que o governo sustentou até o último minuto cada um dos quatro ministros que caíram. E, uma vez fora do governo, continuam impunes e sem qualquer investigação.
 
Cai representante do agrobusiness
 
O caso de Wagner Rossi foi ilustrativo. Ministro desde 2010 quando foi nomeado por Lula, o político é um apadrinhado do vice-presidente Michel Temer (PMDB) e fiel representante do agrobusiness. Desde o final de julho, o político foi alvo de uma saraivada de denúncias, que vão de desvios da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão que comandou, a fraudes e superfaturamento em licitações, cobrança de propinas e o recebimento de privilégios por parte dos empresários do setor.
 
Rossi é acusado de, no comando da Conab, liberar 100 toneladas de feijão à prefeitura de João Pessoa (PB), em 2007, dirigida pelo aliado Ricardo Coutinho (PSB). O então prefeito estocou o feijão para distribuí-lo durante as eleições de 2008. Hoje ele é governador do estado.
 
Outra denúncia é a da atuação de um lobista ligado às empresas agropecuárias em pleno prédio do ministério. O lobista Júlio Fróes teria não só livre trânsito no ministério da Agricultura, como total liberdade para fechar contratos. A audácia era tanta que o lobista contava até com sala no prédio do ministério, equipada com computador e telefone para ele “trabalhar”.
 
A revelação de que Wagner Rossi e seu filho, o deputado Baleia Rossi (PMDB), contavam com um jatinho da empresa Ouro Fino à disposição foi a gota d’água. A empresa produz vacinas para febre aftosa e mantinha negócios com o governo. Temendo o aparecimento de novas denúncias e como forma de resguardar Baleia, presidente do PMDB em São Paulo e uma das principais apostas para a renovação de quadros da sigla, Wagner Rossi pediu demissão. À Dilma coube lamentar a demissão.
 
Rossi saiu, mas a pasta continuou na “cota” do PMDB. O novo ministro, o deputado gaúcho Mendes Ribeiro Filho, afirmou que tinha “muito a aprender” com o ex-ministro. O governo varreu a sujeira para debaixo do tapete.
 
Corrupção e o governo
 
A sucessão de demissões mostra que, longe de partir de uma “cruzada ética” de Dilma, ocorre quando já há uma avalanche de denúncias sem explicação. O governo tenta agora fazer dos limões uma limonada, ou seja, apresentar essas quedas como parte de uma ação moralizadora do governo a fim de esconder essa crise. A corrupção, porém, não é um corpo estranho infiltrado em Brasília. É parte do próprio governo, por suas escolhas e sua natureza.
 
A fim de garantir a “governabilidade”, o PT há muito se rendeu ao chamado pragmatismo político, isto é, a ideia de que se deve abrir mão de princípios e bandeiras para conseguir uma sólida base no parlamento. E isso pressupõe a fisiologia, ou seja, a troca de cargos por apoio no congresso. A prioridade dada à aliança com o PMDB aprofunda isso ainda mais, já que o partido de Temer é o símbolo da corrupção e do fisiologismo no país.
 
Outro aspecto que faz com que a corrupção seja parte integrante desse governo são as relações espúrias entre o setor público e o privado. São empresários, fazendeiros e banqueiros que financiam as campanhas e os partidos que estão no poder. Uma vez eleitos, vão retribuir o apoio. Nem sempre apenas com a aprovação de leis. Licitações e contratos são os meios para irrigarem as empresas.
 
Varrendo para debaixo do tapete
 
O ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, foi flagrado com um crescimento exorbitante de seu patrimônio nos dois últimos anos. Prensado contra a parede por mais de um mês, e sem explicações plausíveis para os R$ 20 milhões de lucros de sua empresa de “assessoria”, Palocci foi obrigado a renunciar para não deixar que a crise atingisse o governo. E continua com os R$ 20 milhões.
 
Denúncias atingem o Ministério dos Transportes comandado por Alfredo Nascimento, do PR. Contratos superfaturados e cobrança de propinas foram revelados no ministério e no Dnit, departamento responsável por obras em estradas federais, e com orçamento de R$ 12 bilhões. Embora soubesse do que acontecia por lá, e incomodada pelos constantes aumentos dos contratos, Dilma na época declarou “total confiança” em Nascimento e o incumbiu de investigar as irregularidades.
 
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, foi o terceiro a cair. E isso só ocorreu após ele ter concedido entrevistas declarando ter votado em Serra nas eleições e ofendendo as ministras Gleisi Hoffman e Ideli Salvatti. Não havia qualquer discordância da política de Jobim, como a defesa das privatizações dos aeroportos ou a ocupação do Haiti.
 
Antes das denúncias atingirem Rossi, o Ministério do Turismo foi alvo de investigação da Polícia Federal, que resultou na prisão de 35 pessoas. O Planalto se limitou a criticar o uso de algemas pela polícia. Há ainda denúncias de corrupção envolvendo o Ministério das Cidades, do Desenvolvimento Agrário e das Minas e Energia.
 
Farsa da “Frente contra corrupção” e o PSOL
 
No dia 15 de agosto, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) lançou no Congresso uma frente parlamentar “suprapartidária” para apoiar a suposta faxina de Dilma. Uma jogada de marketing para apoiar a imagem de “combate à corrupção” de Dilma e para demonstrar que o Senado estava ao seu lado nessa cruzada. Aproveita ainda a boa popularidade que Dilma mantém nas pesquisas.
 
Que o Senado, palco de uma série de casos de corrupção a começar pelo seu presidente, tente navegar de forma oportunista nessa história não é de se espantar. O que estranha é a atuação do senador do PSOL, Randolfe Rodrigues, do Amapá. O senador não só integrou a frente como declarou publicamente apoio à Dilma. “Eu apoio a presidente Dilma para tirar de seu governo o pior tipo de ladrão, que não é o ladrão de galinha, mas o ladrão do dinheiro público, que rouba os sonhos da nação”, discursou o senador.
 
Fonte: Opinião Socialista no 430, PSTU


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