Quem vive em áreas com mais biodiversidade tem maior
imunidade contra doenças respiratórias e alergias, aponta estudo
finlandês. A proteção estaria relacionada à maior quantidade de
microrganismos benéficos ao sistema imunológico no corpo dessas pessoas.
Por: Fernanda Braune
Campos, fazendas e florestas são lugares onde há grande
diversidade de plantas e microrganismos que ajudam na imunização contra
alergias. (foto: Luc Viatour/ www.Lucnix.be – CC BY-SA 2.0)
Cientistas estimam que até 2050 dois terços da população mundial
estarão vivendo em cidades e terão pouca proximidade com a natureza e a
biodiversidade. Uma das consequências desse afastamento, segundo estudo
realizado na Universidade de Helsinque, na Finlândia, será o aumento de
doenças crônicas como alergias e distúrbios respiratórios.
Uma das consequências da pouca proximidade com a
natureza é o aumento de doenças crônicas como alergias e distúrbios
respiratórios
Os pesquisadores investigaram como o contato do ser humano com a
biodiversidade de flora e de microrganismos pode influenciar a
ocorrência das chamadas doenças inflamatórias atópicas, ou seja,
distúrbios causados pela hipersensibilidade a fatores ambientais
diversos e que podem se manifestar na forma de asma, rinite, bronquite e
doenças alérgicas alimentares.
O estudo, publicado esta semana na PNAS,
foi feito com 118 adolescentes de 14 a 18 anos que, desde crianças,
vivem no leste da Finlândia – em fazendas, casas espalhadas pelo campo e
apartamentos. Os cientistas recolheram amostras de sangue para medir os
níveis do anticorpo imunoglobulina E (IgE), que revelam quem é ou não
alérgico, e da citocina IL-10, proteína anti-inflamatória produzida por
células do sistema imunológico para evitar alergias. Também foram
coletadas amostras das bactérias existentes na pele do antebraço desses
adolescentes.
Paralelamente, os pesquisadores mapearam, via satélite, uma área de
aproximadamente 3 km ao redor da moradia de cada um desses indivíduos,
para verificar a extensão da cobertura vegetal no local.
Bactérias benéficas
A análise dos dados mostrou que as alergias eram menos comuns em
pessoas que moravam perto de florestas e, portanto, tinham mais contato
com a biodiversidade. Nesses indivíduos, havia maior incidência de
bactérias do gênero Acinetobacter, que pertence à classe das
proteobactérias gama e reúne microrganismos geralmente não patogênicos –
embora algumas espécies possam causar infecções hospitalares.
Segundo Ilkka Hanski, professor do Departamento de Ecologia e
Biologia Evolutiva da Universidade de Helsinque e um dos autores do
estudo, essas bactérias são facilmente encontradas no solo e na
vegetação. “Elas foram detectadas, por exemplo, nos grãos de pólen das
plantas com flores”, acrescenta.
Os cientistas também observaram que, quanto maior a quantidade de bactérias do gênero Acinetobacter
presentes na pele dos indivíduos analisados, mais IL-10 eles tinham em
seu sangue, o que indica maior imunidade às doenças alérgicas. “Isso
significa que estar próximo à natureza é importante para manter contato
com microrganismos que ajudam na nossa imunidade”, conclui Hanski.
As proteobactérias gama têm um papel considerável no desenvolvimento e na manutenção de anticorpos
O pesquisador ressalta que, apesar de as proteobactérias gama
representarem apenas 3% dos microrganismos que habitam a nossa pele,
elas têm um papel considerável no desenvolvimento e na manutenção de
anticorpos. Os resultados do estudo não revelam, no entanto, o mecanismo
por trás da influência da biodiversidade na proteção contra alergias.
Hanski acredita que seus estudos podem ajudar as pessoas a prevenir
doenças inflamatórias. “As cidades devem ‘construir’ mais espaços
verdes, como parques”, sugere. E completa: “Além disso, poderia ser
desenvolvido um remédio que aumentasse a dose de proteobactérias gama
nas pessoas que vivem em metrópoles”.
Fernanda Braune
Ciência Hoje On-line
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