quarta-feira, 9 de maio de 2012

Natureza antialérgica


             

Quem vive em áreas com mais biodiversidade tem maior imunidade contra doenças respiratórias e alergias, aponta estudo finlandês. A proteção estaria relacionada à maior quantidade de microrganismos benéficos ao sistema imunológico no corpo dessas pessoas.

Por: Fernanda Braune


Natureza antialérgica
Campos, fazendas e florestas são lugares onde há grande diversidade de plantas e microrganismos que ajudam na imunização contra alergias. (foto: Luc Viatour/ www.Lucnix.be – CC BY-SA 2.0)

Cientistas estimam que até 2050 dois terços da população mundial estarão vivendo em cidades e terão pouca proximidade com a natureza e a biodiversidade. Uma das consequências desse afastamento, segundo estudo realizado na Universidade de Helsinque, na Finlândia, será o aumento de doenças crônicas como alergias e distúrbios respiratórios.
Uma das consequências da pouca proximidade com a natureza é o aumento de doenças crônicas como alergias e distúrbios respiratórios
Os pesquisadores investigaram como o contato do ser humano com a biodiversidade de flora e de microrganismos pode influenciar a ocorrência das chamadas doenças inflamatórias atópicas, ou seja, distúrbios causados pela hipersensibilidade a fatores ambientais diversos e que podem se manifestar na forma de asma, rinite, bronquite e doenças alérgicas alimentares.
O estudo, publicado esta semana na PNAS, foi feito com 118 adolescentes de 14 a 18 anos que, desde crianças, vivem no leste da Finlândia – em fazendas, casas espalhadas pelo campo e apartamentos. Os cientistas recolheram amostras de sangue para medir os níveis do anticorpo imunoglobulina E (IgE), que revelam quem é ou não alérgico, e da citocina IL-10, proteína anti-inflamatória produzida por células do sistema imunológico para evitar alergias. Também foram coletadas amostras das bactérias existentes na pele do antebraço desses adolescentes.

Paralelamente, os pesquisadores mapearam, via satélite, uma área de aproximadamente 3 km ao redor da moradia de cada um desses indivíduos, para verificar a extensão da cobertura vegetal no local.


Bactérias benéficas

A análise dos dados mostrou que as alergias eram menos comuns em pessoas que moravam perto de florestas e, portanto, tinham mais contato com a biodiversidade. Nesses indivíduos, havia maior incidência de bactérias do gênero Acinetobacter, que pertence à classe das proteobactérias gama e reúne microrganismos geralmente não patogênicos – embora algumas espécies possam causar infecções hospitalares.
Bactérias do gênero Acinetobacter
A maior quantidade de bactérias do gênero       Acinetobacter’ na pele estaria relacionada a uma maior imunidade a doenças alérgicas. (foto: Janice Carr/ CDC)
Segundo Ilkka Hanski, professor do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade de Helsinque e um dos autores do estudo, essas bactérias são facilmente encontradas no solo e na vegetação. “Elas foram detectadas, por exemplo, nos grãos de pólen das plantas com flores”, acrescenta.
Os cientistas também observaram que, quanto maior a quantidade de bactérias do gênero Acinetobacter presentes na pele dos indivíduos analisados, mais IL-10 eles tinham em seu sangue, o que indica maior imunidade às doenças alérgicas. “Isso significa que estar próximo à natureza é importante para manter contato com microrganismos que ajudam na nossa imunidade”, conclui Hanski.
As proteobactérias gama têm um papel considerável no desenvolvimento e na manutenção de anticorpos
O pesquisador ressalta que, apesar de as proteobactérias gama representarem apenas 3% dos microrganismos que habitam a nossa pele, elas têm um papel considerável no desenvolvimento e na manutenção de anticorpos. Os resultados do estudo não revelam, no entanto, o mecanismo por trás da influência da biodiversidade na proteção contra alergias.

Hanski acredita que seus estudos podem ajudar as pessoas a prevenir doenças inflamatórias. “As cidades devem ‘construir’ mais espaços verdes, como parques”, sugere. E completa: “Além disso, poderia ser desenvolvido um remédio que aumentasse a dose de proteobactérias gama nas pessoas que vivem em metrópoles”.

Fernanda Braune
Ciência Hoje On-line

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