Os dados mais recentes da National Oceanic and Atmospheric Organization, uma instituição governamental dos EUA, mostram que 2011 foi um dos anos mais quentes de sempre, apesar de ter sido menos quente que 2010. Não é uma exceção: os 15 anos mais quentes de sempre ocorreram todos no período pós 1995.
Como resultado, regiões da África Oriental, dos EUA e do México foram afetadas por secas históricas, a Austrália encarou o período de maior pluviosidade de sempre, depois de uma década de secas, mais de 800 pessoas morreram na Tailândia na sequência das piores cheias nas últimas sete décadas, um número comparável de pessoas morreram em deslizamentos de terras no Brasil e a Europa Central e do Sul enfrentou a pior onda de calor desde 2003.1
Este ano, o cenário não tem sido melhor. Os EUA foram atingidos logo em junho por uma onda de calor sem precedentes, tendo enfrentado um verão de tempestades, secas, inundações e incêndios florestais.2 O verão mais quente de sempre na nação cujo governo se recusa a fazer seja o que for para reduzir as suas emissões de gases poluentes teve um impacto significativo na produção de cereais. Acrescentando a queda na produção de cereais na Rússia e na Europa do Sul, temos mais um ano de queda do stock global de cereais.3
O degelo do Ártico atingiu um novo recorde, tendo a extensão de gelo durante o verão atingido apenas metade da média de 1979 a 2010. O volume do gelo no Ártico desceu já em 75% desde 1979, ano em que iniciam os registros.4 Com o derretimento do gelo polar, menos calor é refletido para o espaço e há um aumento da pluviosidade, pelo que estas mudanças têm um impacto global. Este é apenas um exemplo de um fenômeno que tem evoluído a um ritmo bem mais alarmante que o previsto pelos modelos climáticos, mostrando que a climatologia não só não é alarmista como até é conservadora nas suas previsões.
Um verão assim tão quente já não é uma exceção mas antes tornou-se na norma. Para encontrar um mês de agosto cuja temperatura média global seja inferior à média registrada durante o século XX, é necessário recuar 35 anos.5
Atualmente a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera ascende já a 392 partes por milhão.6 Não parece muito mas é o suficiente para perturbar gravemente o clima que os humanos conheceram desde que surgiram no planeta.
O CO2, em conjunto com outros gases com efeito de estufa, forma uma camada na atmosfera que aprisiona o calor na terra. Se tivermos pouco CO2 na atmosfera, teremos um clima demasiado frio para sobreviver, mas se tivermos demasiado teremos um clima demasiado quente para sobreviver. A concentração de CO2 na atmosfera antes da industrialização ascendia a 280 partes por milhão e a margem de manobra segura para a humanidade foi estimada em 350 partes por milhão por um famoso estudo de cientistas da NASA.7 O tempo para evitar as alterações climáticas já passou.
Não passou ainda, contudo, o tempo para limitar as alterações climáticas a um nível que nos permita sobreviver neste planeta. Para isso é necessário libertarmo-nos da dependência dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural), investindo em transportes públicos, reduzindo o consumo de energia e transitando para energias renováveis. É necessário também adotar práticas agrícolas ecológicas e reduzir o consumo de carne e lacticínios, dadas as elevadas emissões de gases com efeito de estufa da agro-pecuária. É necessário ainda travar a desflorestação e rearborizar as áreas desflorestadas em todo o planeta.
Não é uma tarefa fácil ou isenta de custos. Mas é indispensável para garantir a nossa sobrevivência neste planeta e para garantir que todos/as gozamos de uma boa vida, com todos os confortos necessários mas sem nenhum dos desperdícios desnecessários.
Por isso é tão importante acabar com o capitalismo antes que acabe conosco. Uma sociedade amiga do ambiente de que depende é uma sociedade orientada para a satisfação das necessidades das pessoas e não para a satisfação da ganância de uma minoria. Uma sociedade dominada pela lógica do lucro, pelo contrário, será sempre dependente de um crescimento constante do consumo e da produção, sendo uma sociedade devoradora do ambiente e, consequentemente, de si mesma.
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