Paisagem parecida com a de alguns planetas favorece pesquisas para expedições em busca de vida microscópica fora da Terra
O Deserto do Atacama se transformou nos últimos anos num laboratório
de testes para futuras viagens em busca de vida microscópica em Marte e
na Lua, planetas que têm uma paisagem parecida com a árida e inóspita
região norte do Chile.
No Atacama foram feitos testes com robôs que podem caminhar em
superfícies extraterrestres, são realizadas pesquisas para detectar a
existência de microrganismos e foram projetados centros operacionais
para apoiar atividades espaciais.
Um dos projetos mais atrativos é a estação de pesquisa Moon Mars
Atacama Research Stations (MMARS), que ainda não tem data definida para
ser construída.
Impulsionado pela Universidade de Antofagasta, no Chile, a MMARS
terá uma estação base e um ambiente de simulação de ambientes
extraterrestres. No futuro, a ideia é transformar o local num centro de
referência para pesquisas de instituições internacionais.
O centro funcionará na Estação Yungay, a cerca de 80 quilômetros
de Antofagasta e 1.300 quilômetros de Santiago, numa propriedade que o
governo ofereceu em março em regime de concessão.
"Agora é tempo de conseguir parceiros e investimentos. Temos o
local e é preciso começar a levantar os alicerces", disse à Agência Efe
Carlos Riquelme, vice-reitor da Universidade de Antofagasta.
Ao lado da MMARS será construída a Plataforma Solar do Deserto
do Atacama (PSDA), que permitirá desenvolver projetos relacionados à
concentração solar num lugar com elevada radiação.
A ideia é imitar a plataforma solar que o Centro de Pesquisas
Energéticas, Ambientais e Tecnológicas (Ciemat) tem em Almería, na
Espanha.
A MMARS poderá servir de base de pesquisas como a realizada por
cientistas chilenos e espanhóis para detectar microorganismos que vivem
em condições extremas (extremófilos).
A equipe realizou uma perfuração num lago de sal, analisou
amostras de rocha e encontrou bactérias e arquéias (microorganismos
primitivos) que vivem sem luz solar e oxigênio.
Os resultados da pesquisa, realizada pelo Centro de
Biotecnologia da Universidade Católica do Norte, no Chile, e o Centro
Superior de Pesquisas Científicas (CSIC) da Espanha, foram publicados em
2011.
O estudo utilizou um instrumento, chamado Signs of Life Detector
(SOLID), equipado com um biochip que contém 450 anticorpos para
identificar material biológico e que poderia ser empregado para detectar
vestígios de vida na superfície de Marte.
"Atualmente estamos trabalhando em colaboração com grupos da
Nasa para demonstrar a utilidade do SOLID em futuras missões em Marte",
explicou à Agência Efe Víctor Parro, pesquisador do CSIC.
O cientista espanhol admite que devido à atual situação
econômica dos Estados Unidos e da Europa não estão previstas missões
importantes para Marte, mas é "preciso estar preparado para quando as
oportunidades surgirem".
O SOLID poderia ser acoplado a algum dos robôs que vem
realizando testes no escarpado solo do Atacama há mais de 15 anos.
Em 1997, a Nasa e a Universidade Carnegie Mellon dos Estados
Unidos testaram durante quarenta dias o robô Nomad, que tinha como
objetivo buscar água, gelo e minerais na região, o que seria feito
posteriormente numa expedição para a Lua ou Marte.
A Nasa continua aperfeiçoando estes aparatos e atualmente está
desenvolvendo um novo robô, dotado com um instrumento que recolhe
amostras do solo de um metro de comprimento. O robô será testado no
Atacama em 2013, segundo disse à agência Efe David Wettergreen,
pesquisador da agência americana.
Estas iniciativas ocorrem numa zona onde se concentram grandes
observatórios astronômicos, entre eles os telescópios La Silla Paranal,
propriedade do Observatório Europeu Austral (ESO), e o conjunto de 66
antenas de radiotelescópio que compõem o ALMA.
Tudo isso num local ermo onde a sequidão convida a olhar para o
céu claro em busca de outros planetas, onde a existência de vida é quase
uma ilusão.
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